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"Para jogar futebol, não precisa falar português" - Confira entrevista com Jean Katumba, d

Esta entrevista foi publicada originalmente na edição 27 do jornal Conexão Migrante.

A versão digital do jornal pode ser acessada no nosso site na seção Publicações ou clicando aqui.

 

Organizada pela ONG África do Coração, a Copa dos Refugiados chega a sua 5ª edição mostrando como a linguagem universal do esporte pode ajudar na integração de refugiados, imigrantes e brasileiros

Jogadores interagem com torcida durante Copa realizada em Porto Alegre (RS)/Foto: África do Coração

A Copa dos Refugiados é um evento idealizado pela ONG África do Coração com o objetivo de integrar refugiados e imigrantes à sociedade brasileira e, com isso, diminuir o preconceito e promover o respeito e a solidariedade. Nesta entrevista, Jean Katumba, refugiado congolês e presidente da ONG África da Coração, conta ao Conexão Migrante como surgiu o evento e como o futebol pode ser um caminho contra o preconceito e a favor da integração.

Como surgiu a ideia de fazer uma "Copa dos Refugiados"? Quando tivemos a ideia de fazer a Copa dos Refugiados, víamos que no Brasil as pessoas falavam sobre os refugiados que moravam na Europa e pensamos que podíamos fazer alguma coisa para que os brasileiros falassem dos refugiados que estão aqui.

Então foi para trazer visibilidade? Exatamente. A Copa veio para trazer visibilidade aos refugiados.

Podem participar imigrantes também ou apenas refugiados? A ONG tem o objetivo de lidar contra o preconceito e a discriminação e percebemos que refugiado ou imigrante, você é tratado do mesmo jeito no Brasil. Então não poderíamos deixar de lado os imigrantes, porque a dor deles é também a nossa dor.

Como funciona a seleção dos jogadores de cada time? As seleções são compostas por jogadores do próprio país. Então, quando a Síria joga, são sírios que estão em campo. Quando é o Congo, são congoleses. É isso que mostra a confraternização dentro da comunidade e fora da comunidade. A gente não faz o time. Os times são gerenciados pelas comunidades. Nós fazemos o papel de organizar o evento.

Jean Katumba, presidente da ONG África do Coração: “o futebol é uma linguagem universal”/ Foto:África do Coração

E como o esporte pode ser benéfico para um imigrante ou refugiado que chega num país novo? O esporte, falando da Copa, do futebol, é um meio onde não tem discriminação, que junta todas as comunidades. Para jogar futebol, não precisa falar português, não precisa rezar na mesma igreja, não precisa ser branco ou negro, não precisa estar no mesmo partido político. O futebol consegue ultrapassar os limites que foram criados pelo capitalismo.

Você sente que esse evento conseguiu contribuir para diminuir o preconceito, tanto entre os próprios migrantes, aproximando as comunidades, como entre os brasileiros? Sim. No meio da Copa a gente consegue levar brasileiros para serem torcedores dos refugiados. Com isso estamos provocando uma integração. Sabemos que é difícil, mas estamos mostrando para o brasileiro que é possível torcer para o refugiado, dar uma chance a ele.

Nos últimos anos o torneiro se expandiu para outros estados. Você pode contar um pouco dessa trajetória? A Copa começou em São Paulo em 2014. Depois, no ano passado, fizemos o possível para levar o evento para outro lugar e a primeira cidade que estava com as portas abertas foi Porto Alegre (RS). Foi muito bacana, porque a participação do povo gaúcho estava muito forte. Eles realmente abraçaram a Copa. Foi a primeira vez que realizamos jogos numa arena como a do Grêmio. Hoje, a Copa está acontecendo em três cidades: São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Porto Alegre (RS). Também temos interesse de Salvador, Recife e Brasília em realizar o evento.

Além das edições estaduais, há uma final nacional também? Sim, ela ocorre em São Paulo.

Os eventos são gratuitos? Sim, são gratuitos. Apenas em Porto Alegre pediram para cobrar R$10,00, porque de última hora tivemos que mudar os jogos para o estádio do Beira-Rio.

Você se inspirou em algum projeto similar que ocorre em outros países? A inspiração foi mesmo a Copa do Mundo de Futebol, quando o evento foi realizado no Brasil. Vimos que tinham pessoas que apoiavam que o mundial acontecesse aqui e outras não e que a Copa levantava a nação brasileira. E pensamos que se nós [refugiados] também pudéssemos jogar, teríamos acesso a essa "mágica". Poderíamos fazer com que os brasileiros olhassem pra gente. E então decidimos investir no futebol, porque é algo que mobiliza as pessoas no Brasil.

Há mais alguma informação que você gostaria de falar nesta entrevista?

Eu gostaria de falar que o futebol é uma linguagem universal. Dentro do futebol, tem tempo para todo mundo. Ele tem aspectos práticos: dois times e a torcida. As torcidas são incapazes de fazer gol. Já o jogador é obrigado a fazer gol. E o que fica como mensagem é que na vida não tem que se intimidar, tem que ser como um jogador, que tem 45 minutos para fazer gol. Com o futebol a gente mostra para os refugiados que o Brasil não é fácil para os brasileiros e nunca será fácil para a gente. Tem que aprender a entrar em campo e fazer gol. Porque, quando ele faz isso bem, levanta a bandeira do refúgio para a sociedade. E quando ele faz algo ruim, quebra essa mensagem. Isso para falar que futebol é uma linguagem de educação, de respeito, e da vida. Por isso nós escolhemos o futebol e realizamos a Copa dos Refugiados.

CALENDÁRIO - COPA DOS REFUGIADOS 2018

PORTO ALEGRE
02/06 - Jogos eliminatórios | Estádio Passo D’Areia
03/06 – Jogos finais | Estádio Beira-Rio Internacional
SÃO PAULO
25 e 26/8 – Jogos eliminatórios | Estádio Jack Marin
2/9 – Jogos finais | Estádio Pacaembu
RIO DE JANEIRO
4/08 - Jogos eliminatórios | Estádio São Januário
5/08 – Jogos finais | Estádio Olímpico Nilton Santos
BRASIL (finais)

28/09 – Jogos eliminatórios entre os campeões estaduais | Estádio Jack Marin

29/09 – Final | Estádio Pacaembu

06/10 – Coletiva de Imprensa encerramento (resultados da Copa) | Auditório ONG África do Coração

Neste ano, a Copa dos Refugiados será realizada em São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro e terá, pela primeira vez, uma final nacional / Fotos: África do Coração


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